Ϛ O silêncio, às vezes, nos traz significativas reflexões... ele nos permite avaliar as mais íntimas percepções, os mais secretos sentimentos... que, quando externados, mostram quem realmente somos... Talvez não seja preciso falar... Basta perceber, observar e sentir. ï

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Reprovação


Dezembro, janeiro... fim de ano letivo... férias. Para os que estão envolvidos no contexto escolar, esta é uma época de alívio, um momento para reacender a chama que nos rege nesse desafio que é a educação. Entretanto, é também nessa época que inúmeros corações aflitos esperam o resultado das avaliações finais e, para os professores, é a hora de exercer uma difícil tarefa: reprovar ou não reprovar?
Esse é o tempo dos famosos Conselhos de Classe, em que os mestres se reúnem para avaliar os seus discentes. Como me encontro nessa realidade há alguns anos, parei um pouco para refletir sobre o que representa uma reprovação. Até que ponto essa decisão pode interferir na vida de um ser em construção? “Ele está reprovado”, “Ela não tem condições de seguir em frente”... Será que, de fato, sabemos tomar essa decisão?
Para muitos, isso é bem simples: não atingiu o desempenho esperado, está reprovado. Todavia, é preciso observar melhor a história desse aluno. Será que, ao longo do ano, alguém notou que ele precisava de ajuda? Infelizmente, até hoje, a forma de se avaliar um desempenho se dá de forma quantitativa... Enquanto na escola somam-se notas, muitas vezes, na vida daquele aluno somam-se “nãos”, somam-se reprovações: a reprovação da sociedade, a reprovação de sua família, a sua autorreprovação, que se espelha não não-aceitação de si e por aí vai...
“Ele está reprovado!”, bradam muitos. Talvez aquele estudante já saiba... Talvez ele já tenha desistido de lutar, de tentar. Será como uma confirmação do que ele já se repetia: “por que fazer as atividades, por que me empenhar, sei que não conseguirei mesmo... eu sou burro, professora.” Foi o que um dia ouvi. É o que dizem a ele. E assim continuará sua vida escolar... ou não continuará. E o que teremos feito? E nosso papel na vida dessas pessoas?
Essa é uma enorme responsabilidade para os mestres. Obviamente, há aqueles alunos que simplesmente não quiseram se dedicar, mas também há aqueles que precisam de nós, precisam muito. Notamos em seus gestos, em seu olhar uma carência infinita. Creio que a questão não pode ser levada para o fim do ano. Precisamos acompanhar mais aqueles que estão sob nosso olhar diariamente, do contrário, estaremos retirando dessas pessoas o pouco da esperança e crédito no futuro que ainda lhes restam. Sem isso, eles não serão reprovados apenas pela escola, eles serão reprovados pela vida.

3 comentários:

  1. nossa Lili..perfeito esse texto viu!! realmente, reprovar pode parecer pouco..mas pensando nos nãos que virão...ou que ja vieram..acaba com a auto estima de qualquer um

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  2. Verdade, Lili... deveria ser algo contínuo, até que as escolas tentam, mas os alunos esquecem de se esforçar, até que se vejam enforcados. Ai já é tarde demais. Infelizmente, hoje em dia, em algumas instituições, o professor se vê praticamente proibido de reprovar o aluno.

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  3. Sim... infelizmente. Pelo menos podemos tentar fazer algo dentro da sala :)

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