Ϛ O silêncio, às vezes, nos traz significativas reflexões... ele nos permite avaliar as mais íntimas percepções, os mais secretos sentimentos... que, quando externados, mostram quem realmente somos... Talvez não seja preciso falar... Basta perceber, observar e sentir. ï

domingo, 2 de janeiro de 2011

Sábado

Como que extasiada, parei diante de uma cena aparentemente comum, entretanto, que trouxe de volta inúmeras sensações antes escondidas ou arquivadas pelo tempo em minha memória... Era uma criança. Pode parecer óbvia a presença de crianças num parque àquela hora do dia, num desses sábados que convidam a todos a sorrir. Mas a cena a minha frente fez com que aquele sábado alegre se transformasse em diversos outros que vivi. Tempos em que o que me preocupava era apenas a presença de minha mãe por perto, se meu gatinho ia morrer, qual era o bicho que ficava escondido no escuro... se papai voltaria para casa... 
Passei a fitar uma criança que chorava apontando para uma banquinha de doces, dessas comuns nos parques. Dessas que estão ali para isso mesmo: fazer as crianças chorarem ao vê-las. A criança chorava e chorava. Ela dizia “mãe, jujuba, mãe, jujuba! Mas sua mãe parecia inerte a tudo aquilo. Com roupas simples, gestos tímidos, olhar pensativo... ela não tinha condições de comprar aquele doce para seu filho, ela não tinha condições de dar ao menos um sorriso. Era perceptível todo o peso que carregava em seus ombros, o peso de uma vida inteira cheia de “nãos”. Já não dizia “não” ao seu filho. Apenas calava. Surpreendentemente, aquela criança pareceu entender. Não teria o doce. Novamente não teria. Nunca teve.
Em silêncio, prossegui meu caminho. Minha infância feliz cheia de doces veio até mim a me embrulhar o estômago, a me dizer “você é feliz, vê?”. Infância...
 Aquele sábado feliz, que convidava todos a sorrir, não contava com uma coisa: a realidade. Ela de fato não é doce, por mais que choremos para que seja.
               

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